domingo, 15 de novembro de 2015

ARTIGO: O POLICIAL E O MILITAR


Quando criança sonhava em ser um super-heroi. Mas era muito difícil voar e ter uma super força. Passei a brincar de policia e ladrão. Queria ser o policial. Na minha infância era a figura que mais se aproximava do meu sonho de me tornar um super-heroi. Minha bicicleta se tornava minha viatura, minha mão fazia com o polegar e o indicador a minha arma. E a arma não era influencia de violência e sim o instrumento de combate ao mal. Com ela rendia os ladrões e os prendia. E ainda dizia: “você está preso em nome da lei”. Claro que reproduzíamos isso dos filmes policiais americanos da década de 80.

Ainda na infância, gostava de ver os filmes de guerra. Os militares do exercito invadindo cidades, atirando, matando, morrendo pela pátria e voltando ao seu país como verdadeiros herois. Era bonito de ver. O sonho militar. A honra, a verdade, a disciplina. E esta nunca foi problema pra mim. Meu pai era um verdadeiro cultivador da hierarquia e da disciplina. Aprendi a respeitar às autoridades, aos meus pais, aos mais velhos, à professora, à policia. Aprendi que os meus verdadeiros amigos encontraria no seio familiar. Aprendi a não pegar nada de ninguém e o que podia ter era o que meus pais podiam me dar. Aprendi a cumprir horário, se meu pai dissesse 7h e eu chegasse 7h:01, era surra na certa. Aprendi a ter princípios e valores que carregarei pra vida toda.

Graças ao incentivo de meu pai, entrei na Policia Militar. Realizava meu sonho de ser policial e realizava o sonho de meu pai em ser um militar. Parecia a junção perfeita, até o curso de formação. Perdi minha identidade. Agora passei a ser chamado de aluno, de “novinho”, de “bicho”, de “bisonho”, de “monstro”, aprendi que Soldado era “SD”, “Sem Direito”. Aprendi que a ordem unida era a mais importante matéria daquele curso. Aprendi que a ter medo e não respeito. Aprendi ver a humilhação como forma de ensinar a subordinação. Aprendi que a ponderação, o ato de pensar e refletir, era entendido como uma afronta ao superior. Aprendi, que calado sobreviveria por mais tempo nesse sistema.

Hoje, percebo que o medo é a nossa maior prisão. O medo nos paralisa, o medo não nos deixa sonhar, o medo não nos deixa avançar, o medo nos mantem nessa redoma, o medo se constituiu a maior arma de manutenção do poder. O que é a prisão física comparada a prisão da alma? E a conformidade é a corrente que nos mantem presos ao medo.

O super heroi morreu com minha infância, o policial agoniza, e o militar? O militar tem um futuro incerto, ainda resiste, mas ainda acredita na libertação desse sistema nefasto.    

Will Guerreiro

Um comentário:

  1. Tirando algumas correções gramaticais, o texto é muito lúcido e racional.Reflete a realidade do que se passa na caserna em uma Instituição que preza mais em ser Militar do que ser Policial, e o povo é quem sofre essa inversão de valores!

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